Saí apressada da sala, mas isso
já era um hábito. Carolina me surpreendeu no meio do caminho com um daqueles
problemas triviais. Mas com um talento daquele, ela expunha a situação e
facilmente me descrevia uma solução possível. Que funcionária incrível! Já o
chefe dela...
A Carol é um doce! Suporta todas
as crises do Guilherme. Ele cuida da parte financeira da empresa, talvez isso
justifique aquele jeito tão ranzinza. Todo mundo sabe que o Guilherme é muito
educado, muito inteligente e não há outro melhor quando o assunto é números. Eu
mesma dependo bastante do bom desempenho do Guilherme, o que é sempre certo.
Mas pouco se sabe da vida pessoal daquele cara tão sério e tão inteligente.
Talvez aquela fosse a hora certa de saber.
- Carol, então você liga pro
fabricante e diga que entregue a remessa somente depois do dia 30. Fala com
aquele seu jeitinho que tenho certeza que eles não vão negar.
- Ah Samantha, me usando outra
vez?
- Isso não é usar querida. Usar é
o que eu quero fazer com aqueles seus estagiários da manhã. Posso?
- Ah não sei se o Guilherme vai
deixar. Você sabe que ele anda cheio de trabalho por esses dias né?
- Carol, trabalho todos temos
aqui! Você que é tão eficiente, me fala, o que a gente faz com o Guilherme?
- Olha Samantha, pro Guilherme só
arrumando uma namorada que nem você pra ver se tem jeito.
- Carol! Isso não é solução. É
mais problema!
Todas demos risadas daquela
conversa despretensiosa. Saímos para almoçar. Menos o Guilherme, porque ele
ficou trabalhando, como já era de se esperar.
Durante o caminho para o almoço
Carol insistiu novamente nessa idéia. Já não era mais uma conversa
despretensiosa. Falei que não estava afim e a conversa se encerrou por ali de
uma maneira bem estranha.
Depois do almoço a Carol voltou
pra loja e eu fui visitar uns clientes. Mesmo com tanto trabalho aquele assunto
não me saía da cabeça e eu achava aquilo tão engraçado. Acabei mandando uma
mensagem de texto pra Carol:
Agora além de um estagiário competente seu chefe precisa de uma
namorada?! Essa foi boa! Obrigada pelo almoço! Bom trabalho.
Não tive resposta. Acho que eles
realmente tinham muito trabalho mesmo... E eu também. Acabei as visitas um
pouco tarde, fui direto pra casa. Amanhã eu pediria para Carol me ajudar com os
relatórios, ou os estagiários do Guilherme, quem sabe...
Mas naquele dia a última coisa
que aconteceu foi relatório. Cheguei na empresa com um bom humor descomunal.
Peguei meu café, liguei meu computador, tudo como de costume.
Estranhei a Carol não ter ido me
dar bom dia. E como não tive resposta da mensagem achei melhor ver se não tinha
acontecido nada com ela.
Acabei descobrindo que tinha
acontecido. Ou ia acontecer. Não com ela. Comigo.
Quando entrei na sala dei de cara
com a expressão furiosa do Guilherme. Pegar os estagiários dele nem pensar! Mas
não era só isso.
- Muito bem Dona Samantha! Era
com você mesma que eu queria falar. Você pode me explicar que raio de mensagem
foi aquela que você passou pra Carolina ontem?
- Como assim Guilherme? Não estou
entendendo.
- Ah não está entendendo? Então
olha na sua caixa de saída. Não tem nenhuma mensagem pro celular da empresa?
Como pude ser tão descuidada?
Olhei minha caixa de entrada e quando achei a primeira mensagem da Carol apenas
apertei em “responder” sem olhar se era o número do trabalho ou o número
pessoal. Acabei enviando pro celular da empresa que na tarde de ontem estava
com quem mesmo?
- Ah meu deus! Guilherme, calma,
isso é tudo um grande mal entendido!
- Samantha, como é que você fazer
piada da minha vida pessoal é um mal entendido?
- Calma Guilherme, eu posso
explicar.
- Então é bom começar agora,
porque senão isso aqui vai parar no Almeida agora mesmo!
- Guilherme... é que... bom,
vamos ser honestos, você realmente precisa de estagiários competentes. Esses da
manhã tocam o terror aqui na empresa e só você que não sabe. Mas imagino que
não seja por isso que você está tão bravo.
Ele continuou imóvel. Estava mais
furioso do que antes. Se é que isso era possível.
- Guilherme, eu só achei que você
precisasse de uma namorada porque... porque... se a vaga estiver em aberto eu
queria me candidatar ao posto! Mas pelo jeito, foi um erro pensar assim.
Desculpa.
Não sei quem estava mais atônito:
Carol, Guilherme ou eu!
- Samantha se você queria saber
se eu estava namorando ou não você deveria ter ido falar comigo!
- Guilherme! Isso quer dizer que
você está solteiro?
- Isso não te interessa!
Por um segundo achei que eu
pudesse contornar a situação. Realmente não sei de onde saiu tudo aquilo. Mas
aquela brincadeira toda estava passando dos limites. Ao me virar não pude
evitar uma lágrima pesada de vergonha e sentimentos confusos.
- Samantha, mais uma coisa. Quero
te pedir um favor.
Ah, o que? Favor?! Aquilo já era
demais! Saí andando sem nem mesmo ter me virado para olhar na cara daquele
grosso!
- Samantha espera! Eu espero que
essa situação não saia dessas 4 paredes me entendeu? Samantha você está me
ouvindo?
Ele pegou no meu braço como se
fosse um pedaço de papel para ser amassado e jogado fora. Quando ele flagrou
minhas lágrimas entendeu que até mesmo o rascunho tem o seu valor.
- Sim Guilherme eu já entendi.
Vou pedir pro Almeida me mudar de setor. Você tem razão. Sua vida pessoal não
me interessa. E a partir de agora, nem sua vida profissional.
Ouvindo Placebo e lendo você. Vida real ou ficção? sua danadinha!! conversaremos em off. Amo vc. Beijos.
ResponderExcluirOuvindo Placebo e lendo você. Vida real ou ficção? sua danadinha!! conversaremos em off. Amo vc. Beijos.
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