sábado, maio 3

Aquilo que vem de berço

Era um garoto bem bonito. Tipo atlético, roupas importadas, cabelo bem cortado, dentes alinhados. Dirigia um carro importado provavelmente pago pelos pais. Ele estacionou em frente a cafeteria onde eu e Kukla tentávamos pedir um café decente.

Notei que o rapaz saiu do carro e o farol ainda estava aceso.

Notei que nosso pedido, devidamente anotado, não tinha saído, ainda.

O rapaz caminhava em minha direção enquanto eu pensava se deveria avisá-lo que, mesmo com faróis automáticos, carros importados também podem ter um "tilti" e ficar ligado por horas consumindo a bateria da engenhoca toda.

Falei pra Kukla "o farol daquele cara tá aceso". A frase ficou super estranha, eu reconheço.

De repente, o rapaz estava passando do lado da minha mesa e eu, de supetão, chamei a atenção dele. Ou tentei. Umas três vezes até ele olhar pra mim e eu finalmente dizer "moço, o farol do seu carro tá acesso".

Nós três voltamos o olhar para o carro importado e sua natural imponência tecnológica apagando os faróis de xênon naquele mesmo segundo.

O rapaz apenas virou e me disse, meio esnobe, "tá apagado". E continuou andando como se nada tivesse acontecido.

E eu falei "de nada", como se eu tivesse feito um favor pra ele.


Quando, finalmente, nosso pedido chegou, tava todo errado e o copo tava quebrado.

*

2 comentários:

  1. Agora que vi. Cara chato. Atendimento pessimo. Mas nos amamos. No sentido não sexual, esclarecendo.

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